A crescente epidemia de solidão na Europa – Uma análise ampla

De acordo com estudos recentes da União Europeia, uma crescente onda de solidão tem se espalhado por diversos países europeus, um fenômeno que só piorou com a pandemia da Covid-19.

A Solidão na Europa: Uma Nova ‘Epidemia’?

A solidão e o isolamento social, independentemente da denominação utilizada, trazem danos significativos à saúde física e mental das pessoas. Isso é o que aponta o estudo do Centro Comum de Pesquisa (JRC)(https://publications.jrc.ec.europa.eu/repository/handle/JRC125873), serviço de ciência e conhecimento da Comissão Europeia.

Dubravka Šuica, Vice-Presidente da Comissão Europeia de Democracia e Demografia, afirma que encontrar maneiras de lidar com a solidão é uma responsabilidade das autoridades:

> ‘Há evidências científicas de que a solidão afeta a saúde mental e física, e pode reduzir a coesão social, a confiança na comunidade e, no final das contas, os resultados econômicos. A solidão deve ser levada em consideração por suas consequências individuais e sociais.

Dubravka também ressalta a necessidade de tratar a questão da solidão como uma comunidade:

> ‘Isso é essencial para melhorar a resiliência de nossas sociedades e nosso desempenho econômico. Isso é responsabilidade de todos nós – em nível local, nacional e da UE, para as autoridades, a sociedade como um todo e cada indivíduo.’

Efeitos prejudiciais da solidão na saúde mental e física

Segundo os dados apresentados na pesquisa, a solidão tem sido comparada a problemas sérios de saúde como a obesidade e o tabagismo no que diz respeito aos riscos de mortalidade, estando também associada a problemas de saúde física e psicológica.

Foi avaliado que adultos vivendo em isolamento têm maior probabilidade de produzir altos níveis do ‘hormônio do estresse’, o cortisol. Além disso, outros fatores de risco foram mencionados, como pressão arterial elevada, sono prejudicado e resistência cardiovascular reduzida.

As consequências a longo prazo também foram mencionadas, indicando que, com o passar do tempo, podem ocorrer inflamações crônicas e taxas de morbidade e mortalidade mais altas.

Na saúde mental, a solidão está associada a casos de depressão ou a hábitos não saudáveis, como tabagismo e sedentarismo. Níveis baixos de empatia, alto nível de desconfiança e intolerância em relação a opiniões alheias também são citados como possíveis consequências do isolamento social.

Quem se sente mais solitário?

O relatório mostra que a pandemia da Covid-19 teve um impacto significativo em todas as idades, no entanto, ao contrário do que se poderia imaginar, a população mais jovem apresentou um maior índice de solidão do que pessoas mais velhas.

Dados pré-pandemia

Antes da pandemia, o nível de solidão era mais alto entre a população de faixa etária mais alta. Enquanto 9% dos jovens adultos (com idade entre 18 e 25 anos) e 10% dos adultos de 26 a 45 anos se sentiam frequentemente solitários, a prevalência da solidão aumentava para 12% entre os adultos de 46 a 64 anos e para 15% entre os entrevistados com 65 anos ou mais.

Dados pós-pandemia

Após a pandemia esse quadro foi invertido. Os jovens adultos mostraram ser os mais solitários. O grupo de pessoas que disseram se sentir solitárias entre os entrevistados com idade entre 18 e 25 anos aumentou de 9% para 35% nos primeiros meses da pandemia, número quatro vezes mais alto.

Em outras faixas etárias a mudança foi de em 15, 11 e 8 pontos percentuais, respectivamente, para os grupos etários de 26 a 45, 46 a 64 e 65 anos ou mais.

Iniciativas no combate à solidão na União Europeia

Com a solidão vista como um problema de saúde pública, a União Europeia busca desenvolver ferramentas no auxílio ao combate ao isolamento social. No último relatório publicado em junho de 2023, foi anunciada criação de métodos de mapeamento online recentemente desenvolvidos que permitirão e facilitarão a busca por apoio e intervenções contra a solidão oferecidas em toda a UE.

A maioria das intervenções identificadas tem como alvo específico os adultos mais velhos (53%), enquanto apenas 8% tem como alvo os jovens. Diante do aumento no número de jovens que se consideram solitários, a comissão europeia vê a necessidade de desenvolver ferramentas de apoio a essa faixa etária, além de outros grupos de risco.

A princípio, uma das ideias principais é conectar as pessoas (41%) ou oferecer atividades sociais e/ou em grupo (26%) para os participantes, aumentando a rede de contatos. Esses trabalhos vêm sendo implementados por ONGs (36%), seguida por governos locais (18%) e iniciativas conjuntas com vários parceiros (13%).

Outra iniciativa é a criação do Livro Verde sobre o Envelhecimento, uma forma de apoiar e refletir sobre como construir juntos uma sociedade mais resiliente e coesa que não exclua seus cidadãos durante todo o ciclo de vida.

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